Como entender e usar intertextualidade em textos e redações
Guia completo de intertextualidade: conceito, exemplos práticos e dicas para aplicar em textos e na redação do ENEM.
Literatura

Intertextualidade é um tema que cai bastante no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), ela exige repertório cultural e a habilidade de identificar relações entre textos e obras. A Intertextualidade é um recurso utilizado por artistas, em livros, poemas, filmes e canções onde um texto faz referência a outro.
Intertextualidade é um tema que cai bastante no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), ela exige repertório cultural e a habilidade de identificar relações entre textos e obras. A Intertextualidade é um recurso utilizado por artistas, em livros, poemas, filmes e canções onde um texto faz referência a outro.

Agora vamos conhecer os tipos de Intertextualidade mais utilizados:
Paródia
A paródia acontece quando um texto é recriado de maneira crítica, humorística ou irônica. Ou seja, pega-se um texto já conhecido e altera-se sua forma ou conteúdo, geralmente para provocar reflexão ou gerar humor. Diferente da simples cópia, a paródia cria um novo sentido em cima de algo que já existe.
Como funciona:
Ao ler ou ouvir uma paródia, o receptor precisa reconhecer o texto original para entender a graça ou a crítica. Esse reconhecimento é o que garante o efeito intertextual.
Exemplo literário: Canção do Exílio (Gonçalves Dias) foi parodiado por Oswald de Andrade em Canto de Regresso à Pátria.
Enquanto Gonçalves idealizava a natureza brasileira, Oswald trouxe um tom crítico e irônico: “Minha terra tem palmares / Onde gorjeia o mar”.
Exemplo cultural: Na internet, músicas famosas são constantemente parodiadas em vídeos de humor. Por exemplo, versões engraçadas de Evidências, de Chitãozinho & Xororó, que circulam em memes.
No ENEM: A paródia pode aparecer em questões que pedem para comparar sentidos entre textos. O aluno deve perceber como o humor, a crítica ou a ironia transformam o texto original.
Pastiche
O pastiche é a imitação respeitosa do estilo de um autor, obra ou gênero. Diferente da paródia, ele não tem intenção de ridicularizar ou criticar, mas sim de homenagear.
É quase como uma “cópia artística”, feita para mostrar admiração ou manter viva uma estética.
Como funciona: Ao usar pastiche, o autor cria algo novo que “parece” ter sido feito por outro, porque adota seu estilo narrativo, temático ou visual.
Exemplo literário: Escritores contemporâneos que imitam o estilo machadiano (uso da ironia, diálogo direto com o leitor) estão fazendo um pastiche.
Exemplo cultural: A série Wandavision reproduz, episódio a episódio, estilos de sitcoms clássicas, como I Love Lucy e The Brady Bunch. É um tributo à televisão americana.
No ENEM: O pastiche pode aparecer em comparações entre gêneros textuais, pedindo ao aluno para identificar elementos de estilo herdados de outros textos.
Paráfrase
É a reescrita de um texto com outras palavras, mas mantendo o mesmo significado. A paráfrase serve para facilitar a compreensão, tornando o conteúdo mais claro.
Como funciona: É muito usada em resumos, trabalhos escolares e explicações. O autor pega a ideia original e reconta de forma acessível, sem alterar o sentido.
Exemplo didático: Explicar em linguagem simples o artigo 5º da Constituição (“todos são iguais perante a lei...”) sem perder sua essência.
Exemplo cultural: Muitas letras de músicas contemporâneas são paráfrases de poesias clássicas, adaptando a linguagem para o público jovem.
No ENEM: Muitas questões pedem que o estudante identifique paráfrases de textos motivadores. Reconhecer que a ideia é a mesma, mas com palavras diferentes, é essencial para acertar a questão.
Citação
É quando se reproduz fielmente a fala ou o pensamento de outro autor. Costuma aparecer entre aspas ou com o nome do autor indicado.
Como funciona: A citação reforça a credibilidade de um texto, mostrando que ele dialoga com ideias já estabelecidas.
Exemplo acadêmico: “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.” (Paulo Freire).
Exemplo cultural: Músicas e filmes muitas vezes citam frases famosas para provocar impacto.
No ENEM: A citação é permitida na redação, mas deve ser usada com cuidado. O uso adequado mostra repertório cultural, mas precisa estar conectado à argumentação.
Epígrafe
O que é: É um pequeno trecho retirado de outro texto, colocado no início de uma obra, capítulo ou poema. Ela funciona como uma espécie de “chave de leitura”, preparando o leitor para o tema ou clima da obra.
Como funciona: A epígrafe cria expectativa e dá pistas sobre o conteúdo que virá. Pode ser literária, filosófica, histórica, bíblica ou até retirada de músicas.
Exemplo literário: Guimarães Rosa inicia Grande Sertão: Veredas com uma epígrafe bíblica.
Exemplo cultural: Em muitos filmes, frases impactantes aparecem no início para situar o espectador, como em Jogos Vorazes: A Esperança, que cita palavras revolucionárias para contextualizar a narrativa.
No ENEM: Questões podem trazer epígrafes como parte do enunciado, pedindo que o estudante identifique o diálogo entre esse fragmento e o texto principal.
Sample
O sample acontece na música quando um artista aproveita trechos de outras músicas para criar uma nova obra. É uma forma de intertextualidade sonora.
Como funciona: O artista recorta sons, batidas ou até versos inteiros de outra música e os insere na sua própria canção.
Exemplo internacional: Stronger, de Kanye West, usa sample da música Harder, Better, Faster, Stronger, do Daft Punk.
Exemplo brasileiro: Muitos raps nacionais utilizam samples da MPB, como trechos de músicas de Chico Buarque e Elis Regina.
No ENEM: Pode aparecer em questões sobre gêneros musicais, pedindo que o aluno reconheça a reutilização de obras anteriores.
Alusão
A alusão é uma referência indireta a outro texto, personagem ou fato histórico. Não se cita de forma explícita, mas dá pistas para que o leitor perceba o diálogo.
Como funciona: Para entender a alusão, é preciso ter repertório cultural. Quem não conhece o fato ou obra de origem pode não perceber a referência.
Exemplo literário: O ciúme de Bentinho em Dom Casmurro é uma alusão ao ciúme de Otelo, personagem de Shakespeare.
Exemplo cultural:
Em La Casa de Papel, a música Bella Ciao é uma alusão à luta antifascista, mesmo sem explicação explícita.
Exemplo no cotidiano: Dizer “isso é um Titanic” quando algo está prestes a dar errado é uma alusão ao navio que afundou.
No ENEM: Alusões aparecem em charges, músicas e poesias. O estudante precisa identificar a referência implícita para compreender o sentido completo.
Resumo final: Intertextualidade
A intertextualidade não significa apenas “citar” diretamente outro texto. Ela é muito mais ampla: trata-se de qualquer forma de diálogo entre textos, músicas, imagens, filmes, obras de arte ou até memes. Esse diálogo pode acontecer de maneiras diferentes:
Paródia: quando o texto faz uma crítica ou humor em cima de outro.
Pastiche: quando o autor homenageia ou imita o estilo de outro sem ironia.
Paráfrase: quando se reescreve a mesma ideia com outras palavras.
Citação e Epígrafe: quando se usam trechos exatos de outras obras, seja dentro de um texto (citação) ou como abertura para guiar a leitura (epígrafe).
Sample: quando músicas reaproveitam sons e trechos de outras canções.
Alusão: quando há uma referência indireta a uma obra, fato histórico ou personagem.
Como a Intertextualidade aparece no ENEM?
Na prova de Linguagens: é comum que as questões tragam dois ou mais textos para serem comparados. O aluno deve perceber como eles dialogam entre si e o que muda no significado.
Na Redação: usar intertextualidade pode enriquecer o texto. Por exemplo, citar Paulo Freire, aludir a uma obra literária ou usar uma referência cultural pode mostrar repertório produtivo. Mas é importante usar esses recursos de forma coerente e relacionada ao tema.
Exercício para fixação:
Leia os textos a seguir:
Texto 1: Trecho de “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias:
“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.”
Texto 2: Trecho de “Canto de Regresso à Pátria”, de Oswald de Andrade:
“Minha terra tem palmares,
Onde gorjeia o mar;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.”
Com base na leitura dos textos, assinale a alternativa correta:
a) O texto de Oswald de Andrade é uma paráfrase do texto de Gonçalves Dias, pois reescreve a mesma ideia com palavras diferentes.
b) O texto de Oswald de Andrade constitui uma paródia, pois transforma o sentido original do texto de Gonçalves Dias, usando ironia e crítica.
c) O texto de Oswald de Andrade é um pastiche, pois imita respeitosamente o estilo de Gonçalves Dias, sem alterar o sentido original.
d) O texto de Oswald de Andrade é uma citação direta, pois reproduz exatamente o trecho de Gonçalves Dias.
Resposta correta: b) – É uma paródia, pois mantém a estrutura do texto original, mas altera o conteúdo para gerar crítica e ironia.