Principais figuras de Sintaxe e como elas aparecem na Redação

Guia completo sobre figuras de sintaxe: tipos, exemplos e dicas para interpretar textos e melhorar sua redação do ENEM.

Redação

Figuras de Sintaxe

No estudo da Língua Portuguesa, especialmente para quem se prepara para o Enem e outros vestibulares, compreender as figuras de linguagem é essencial. Dentro desse universo, as figuras de sintaxe ganham destaque por ajudarem a perceber como a estrutura das frases pode ser alterada para gerar efeitos de sentido, estilo ou ênfase. Saber identificar essas figuras não só facilita a interpretação de textos, mas também enriquece a redação, tornando-a mais criativa e expressiva.

O que são figuras de sintaxe?

As figuras de sintaxe, também chamadas de figuras de construção, são recursos usados na organização das palavras dentro de uma frase. Elas não mudam diretamente o significado das palavras, mas sim a forma como elas se relacionam, criando efeitos de destaque, musicalidade, clareza ou até intencionalmente quebrando padrões da gramática. 

Em outras palavras, são desvios conscientes da norma para tornar o texto mais expressivo. Pense assim: em uma frase comum, você teria sujeito, verbo e complemento em ordem direta, bem organizados. Mas, para destacar uma ideia, criar musicalidade, dar agilidade ou até trazer dramaticidade, o autor pode quebrar essa estrutura. Essa quebra não é um erro: é uma estratégia consciente de estilo.

Exemplo:

Forma comum: “O cavaleiro desceu das colinas verdes.” 

Com hipérbato (figura de sintaxe): “Das colinas verdes desceu o cavaleiro.”
Percebe a diferença? A ordem foi alterada para dar destaque ao espaço antes de apresentar o personagem.

Principais tipos de figuras de sintaxe

Elipse

Acontece quando uma palavra ou termo é omitido, mas pode ser facilmente entendido pelo contexto. É muito usada para dar rapidez e concisão ao texto.

Exemplo: “Na sala, apenas três alunos.” (o verbo “havia” foi omitido).
Esse recurso imita a oralidade e deixa a frase mais dinâmica. 

Zeugma

É um caso específico de elipse, mas aqui o termo omitido já foi mencionado antes, evitando repetição desnecessária.

Exemplo: “Ele gosta de cinema; ela, de teatro.”
O verbo “gostar” foi omitido na segunda oração porque já estava claro na primeira. 

Pleonasmo

Consiste na repetição de uma ideia para dar ênfase ou reforçar o que já está subentendido. Pode ser considerado um vício de linguagem quando usado sem propósito, mas, se intencional, é um recurso estilístico muito válido.

Exemplo: “Vi com meus próprios olhos.”
A repetição reforça a ideia de testemunho direto. 

Hipérbato

É a inversão da ordem natural da frase. Em vez de sujeito + verbo + complemento, o autor pode organizar de outra forma para dar destaque ou efeito literário.

Exemplo: “Das colinas verdes desceu o cavaleiro.”
O espaço foi colocado antes do sujeito e do verbo para criar um efeito poético. 

Anacoluto

Ocorre quando um termo aparece no início da frase, mas não se encaixa gramaticalmente no restante dela. É comum em textos que buscam reproduzir a oralidade.

Exemplo: “A vida, não sei se gosto dela.”
O termo “a vida” não exerce função sintática na frase, mas serve como tema inicial. 

Silepse

É a concordância feita de acordo com a ideia e não com a forma gramatical. Pode ser de gênero, número ou pessoa.

Exemplo: “O povo sofria e gritavam nas ruas.”
A concordância formal seria “sofria e gritava”, mas o verbo no plural reflete a ideia de “as pessoas que formam o povo”. 

Polissíndeto

Caracteriza-se pelo uso repetido de conjunções, especialmente o “e”. Esse recurso dá ritmo e intensidade ao texto.

Exemplo: “E chorava, e gritava, e corria sem parar.”
A repetição transmite cansaço, insistência, desespero. 

Assíndeto

O oposto do polissíndeto. Aqui, as conjunções são eliminadas, deixando apenas a sequência de termos ou ações. Esse recurso cria um efeito de rapidez, dinamismo e impacto.

Exemplo: “Cheguei, vi, venci.”
A ausência de conectivos dá agilidade ao enunciado. 

Como identificar e interpretar figuras de sintaxe em textos

Para reconhecer se há uma figura de sintaxe em um texto, observe:

  1. Mudança na ordem das palavras: frases invertidas ou termos deslocados. 
  2. Palavras omitidas: o sentido continua claro, mesmo sem o verbo ou sujeito explícito. 
  3. Repetição de elementos: pode ser proposital para criar ênfase ou ritmo. 
  4. Quebra da concordância tradicional: quando o verbo ou adjetivo concorda com a ideia, e não com a forma gramatical. 
  5. Ausência ou excesso de conectivos: o uso (ou não) das conjunções altera a cadência do texto. 

Interpretar essas figuras é perceber o efeito de sentido que elas produzem: se aproximam o texto da oralidade, se criam dramaticidade, se reforçam uma ideia ou se aceleram a narrativa.

Importância das figuras de sintaxe para a redação

Na redação do Enem, o uso consciente das figuras de sintaxe pode transformar a qualidade do texto. Esses recursos permitem variar a estrutura das frases, o que evita a monotonia e prende a atenção do corretor. 

Também ajudam a dar ênfase a argumentos centrais, reforçando a clareza das ideias defendidas, além de possibilitar a inserção de nuances de emoção e expressividade em determinados trechos.

Outro ponto relevante é que o emprego equilibrado dessas figuras mostra que o candidato tem domínio da norma-padrão, mas sabe utilizá-la de forma criativa e estratégica, sem perder a formalidade exigida no gênero dissertativo-argumentativo.

No entanto, o exagero pode gerar o efeito contrário: frases confusas, prolixas ou distantes da objetividade necessária. 

Por isso, a recomendação é utilizar as figuras de sintaxe de maneira pontual, escolhendo momentos-chave do texto — como a introdução, para criar impacto inicial, ou a conclusão, para deixar uma ideia marcante. Assim, elas funcionam como ferramentas de reforço argumentativo, e não apenas como adornos estilísticos.

Exemplos de como cai na prova

As figuras de sintaxe podem surgir de forma natural e estratégica na redação do Enem, principalmente quando o candidato deseja variar a construção frasal, dar ritmo ao texto ou destacar uma ideia central. Elas não precisam ser forçadas: muitas vezes, aparecem espontaneamente quando o estudante tem domínio da escrita e busca evitar a repetição de estruturas muito simples.

Por exemplo, o assíndeto pode surgir quando o autor enumera ações ou argumentos de forma direta, criando agilidade: “O problema atinge famílias, prejudica jovens, compromete o futuro do país.” Já o polissíndeto pode ser usado para transmitir intensidade: “A desigualdade persiste e aumenta, e fragiliza o acesso à educação, e compromete a cidadania.”

hipérbato também pode ser um recurso interessante, especialmente na introdução ou na conclusão, ao inverter a ordem da frase para dar destaque a uma ideia: “À juventude brasileira cabe a esperança de transformar essa realidade.”

O importante é perceber que essas figuras não aparecem como “enfeites”, mas sim como ferramentas de expressão, que ajudam a reforçar argumentos e mostrar maturidade linguística. Quando bem utilizadas, tornam o texto mais envolvente, coeso e convincente, sem comprometer a clareza exigida pelo gênero dissertativo-argumentativo.

Exercícios

Exercício 1

Leia o trecho a seguir:

"E chorava, e gritava, e corria desesperado pelas ruas."

Esse trecho exemplifica qual figura de sintaxe?

a) Assíndeto
b) Polissíndeto
c) Hipérbato
d) Elipse
e) Zeugma

Comentário:
O autor repete a conjunção “e” em cada ação (chorava, gritava, corria). Esse recurso cria ritmo, intensidade e dramatização da cena, típico do polissíndeto. Se fosse o assíndeto, as conjunções estariam omitidas.
✅ Resposta correta: b) Polissíndeto

Exercício 2

Observe a frase:

"O povo sofria e gritavam nas ruas contra a injustiça."

A figura de sintaxe presente no enunciado é:

a) Elipse
b) Hipérbato
c) Silepse
d) Pleonasmo
e) Zeugma

Comentário:
A concordância feita no verbo “gritavam” não acompanha a forma gramatical do sujeito singular (o povo), mas sim a ideia implícita de que “povo” corresponde a várias pessoas. Esse é um caso clássico de silepse de número, quando o verbo concorda com o sentido e não com a forma.
✅ Resposta correta: c) Silepse