Revolta da Vacina (1904): Entenda o Levante Popular contra a Imposição Sanitária

 Introdução

A Revolta da Vacina, ocorrida em novembro de 1904 no Rio de Janeiro, foi uma reação popular à imposição da vacinação obrigatória contra a varíola. Mais do que um simples protesto contra a saúde pública, o movimento refletiu o descontentamento da população com medidas autoritárias do governo e a insatisfação diante das profundas reformas urbanas que transformavam a cidade. Apesar de ter durado poucos dias, a revolta é um marco histórico que mostra o impacto da relação entre Estado e sociedade.

Contexto Histórico

No início do século XX, o Rio de Janeiro enfrentava sérias crises sanitárias. Epidemias de varíola, febre amarela e peste bubônica eram comuns, principalmente entre a população mais pobre.
Para combater essas doenças e modernizar a cidade, o governo federal, sob o comando do presidente Rodrigues Alves, e o prefeito Pereira Passos implementaram grandes reformas urbanas. Essas reformas incluíram a demolição de cortiços e o deslocamento de famílias pobres para áreas periféricas, causando revolta e insatisfação entre os moradores.

Além das reformas urbanas, a população ainda enfrentava condições de vida precárias, com saneamento básico insuficiente, ruas mal pavimentadas e habitações superlotadas. Esse cenário criou um clima de desconfiança em relação às medidas do governo.

Lei da Vacinação Obrigatória

Em 31 de outubro de 1904, o governo sancionou a Lei nº 1.261, tornando obrigatória a vacinação contra a varíola.
A medida tinha como objetivo conter a disseminação da doença, mas a população interpretou a obrigatoriedade como uma forma de autoritarismo e invasão de direitos individuais. Muitos trabalhadores e moradores pobres viam a vacinação forçada como uma humilhação, e o fato de agentes de saúde entrarem à força nas casas para vacinar pessoas aumentava ainda mais a tensão social.

A Revolta da Vacina

O estopim do conflito aconteceu em 10 de novembro de 1904, quando a regulamentação da vacinação começou a ser aplicada de maneira rigorosa.
A população reagiu com protestos, barricadas e ataques a autoridades. As manifestações se espalharam pelos bairros mais pobres do Rio de Janeiro, e confrontos com a polícia e o exército resultaram em prisões e feridos.
Apesar da violência e da resistência, a revolta durou cerca de uma semana e terminou com a intervenção do governo, que manteve a vacinação obrigatória, mas ajustou a forma como ela seria aplicada, buscando reduzir a tensão popular.

A Revolta da Vacina não foi apenas uma reação contra a vacinação em si, mas também um reflexo do descontentamento com o autoritarismo do governo e a desigualdade social. É um exemplo claro de como políticas públicas, mesmo necessárias, precisam considerar a participação e a compreensão da população.

Exercícios 

Questão 1 - Enem 2019

Em 1904, foi aprovada a vacina obrigatória da varíola. Tal medida foi o estopim da Revolta da Vacina, movimento em que a população foi às ruas para:

Alternativas:
a) Protestar contra a imposição de uma medida sanitária.
b) Apoiar as reformas urbanas implementadas pelo governo.
c) Reivindicar melhores condições de saúde pública.
d) Propor alternativas à vacinação obrigatória.
e) Celebrar a erradicação da varíola.

Resposta correta:
a) Protestar contra a imposição de uma medida sanitária.

Comentário:
A alternativa correta evidencia o principal motivo da revolta: a resistência popular à imposição da vacinação obrigatória. A população se sentiu coagida e desrespeitada, reagindo às medidas do governo.

Questão 2 – Enem 2020

Enunciado:
"A Revolta da Vacina (1904) mostrou claramente o aspecto defensivo, desorganizado e fragmentado da ação popular. Não se negava o Estado, não se reivindicava participação nas decisões políticas; defendiam-se valores e direitos considerados acima da intervenção do Estado."

Alternativas:
a) A mobilização representou um alerta, questionando a imposição de políticas públicas sem consulta à população.
b) Evidenciou a falta de interesse da população pelas questões sanitárias.
c) Foi um exemplo de apoio às reformas urbanas propostas pelo governo.
d) A ação popular foi organizada e liderada por partidos políticos de oposição.
e) Demonstrou aceitação da população às medidas autoritárias do governo.

Resposta correta:
a) A mobilização representou um alerta, questionando a imposição de políticas públicas sem consulta à população.

Comentário:
A alternativa correta mostra que a revolta não tinha caráter político organizado, mas refletia a resistência popular a políticas autoritárias que não consideravam os direitos e opiniões da população.