Direção defensiva traz boas práticas para guiar sem acidentes
Dados preliminares do Ministério da Saúde mostram que 12.870 motociclistas morreram em 2023, número superior às 12.058 mortes de 2022. As motos estiveram envolvidos em 38,6% dos acidentes fatais, com taxa de mortalidade de 6,3 óbitos por 100 mil habitantes, aponta o Atlas da Violência 2025.
No Brasil, sete estados registraram mais de 50% das mortes em acidentes com motocicletas entre 2013 e 2023, conforme estimativa do Centro de Liderança Pública. O Piauí lidera o indicador, com quase 70% das mortes envolvendo veículos de duas rodas. As regiões Nordeste e Norte concentraram crescimento de aproximadamente 45% nos óbitos, enquanto Sul e Sudeste apresentaram quedas de 1,5% e 2,8%.
Os acidentes de trânsito matam 1,19 milhão de pessoas por ano no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) registra, ainda, entre 20 e 50 milhões de feridos não fatais. Pedestres, ciclistas e motociclistas representam mais da metade dessas mortes. As grandes cidades brasileiras têm desafios próprios. A parcela de carro de aplicativo em São Paulo, assim como nas demais capitais, cresce a cada ano, exigindo dos motoristas profissionais uma atenção redobrada com relação à direção defensiva.
Falha humana lidera causas
Um compilado de pesquisas realizadas pelo Detran mostra que problemas relacionados ao condutor lideram as causas de acidentes, sendo responsáveis por 64% dos registros. Na sequência aparecem falhas mecânicas (30%) e deficiências na infraestrutura das vias (6%).
Entre as falhas humanas, três se destacam: a imprudência, que inclui viajar acima da velocidade; a imperícia, caracterizada pela inexperiência ou pelo desconhecimento do local; e a negligência, marcada por falta de atenção.
Dirigir alcoolizado ou sob efeito de drogas está entre os comportamentos mais graves. O álcool altera a percepção e a coordenação motora, comprometendo vários órgãos, especialmente o cérebro.
Um estudo do Grupo de Pesquisa sobre Álcool, Drogas e Violência da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) detectou ingestão de álcool em níveis altos em metade dos acidentes envolvendo motociclistas. Entre condutores de caminhão, outra pesquisa vinculada à USP identificou uso recente de drogas em 6% dos casos, sendo cocaína em 3,8% e anfetaminas em 1,4%. Na cidade de São Paulo, 12,9% dos motociclistas testaram positivo para maconha ou cocaína.
Técnica preventiva reduz riscos
As autoridades de trânsito defendem a direção defensiva para diminuir os acidentes. O método orienta o condutor a reconhecer situações de perigo antes que ocorram e a dirigir de forma preventiva, ainda que outros motoristas falhem ou a pista ofereça riscos. “Ela é fundamental para prevenir acidentes e proteger vidas. No dia a dia do trânsito, imprevistos acontecem, desde um pedestre distraído até outro motorista fazendo uma manobra arriscada”, pondera o diretor de vendas da Kovi, Osmar Queiroz Melo.
A direção defensiva funciona a partir de cinco elementos, identificados pela sigla CHAPD: Conhecimento, Atenção, Previsão, Decisão e Habilidade. Os cursos de formação de condutores ensinam que esses componentes trabalham de forma sequencial.
O conhecimento envolve dominar leis de trânsito, sinalizações, limites de velocidade e características do veículo. Inclui ainda reconhecer e lidar com condições adversas. A atenção funciona como coleta de dados. O condutor precisa praticá-la distribuindo o foco entre retrovisores, outros veículos, pedestres e painel de instrumentos, sem nunca perder a questão principal que é manobrar o carro de forma segura.
A previsão usa as informações captadas com atenção para antecipar possíveis perigos, o que garante mais tempo para reagir sem surpresas. A decisão entra nessa parte, escolhendo a melhor alternativa quando algum risco real surge ou é percebido, procurando agir com destreza e técnica para operar pedais, volante e comandos.
Oito situações que exigem atenção
O Detran lista oito categorias de condições adversas para os motoristas: luz, tempo, via, trânsito, veículo, carga, passageiro e condutor. Cada uma exige cuidados específicos.
Problemas de iluminação acontecem por excesso ou falta de luz, natural ou artificial. Quando há ofuscamento por farol alto desregulado, a orientação é desviar o olhar para a linha de bordo à direita da pista e reduzir a velocidade.
Chuva, neblina e vento forte diminuem a capacidade de avaliar a estrada. Durante a chuva, é recomendado reduzir a velocidade, acionar o farol baixo e aumentar a distância de seguimento.
A aquaplanagem ocorre quando se forma uma camada de água entre os pneus e o pavimento, fazendo o veículo “flutuar” e perder contato com o solo, resultando em perda total de controle da direção e dos freios. Nessa hora, o motorista deve manter a calma, segurar firme o volante, tirar o pé do acelerador suavemente e evitar movimentos bruscos até recuperar a aderência.
O que não se deve fazer jamais em casos de aquaplanagem é frear bruscamente ou tentar virar o volante com força, pois isso pode provocar capotamento ou derrapagem lateral quando os pneus retomarem contato com o asfalto. A prevenção é a melhor estratégia: reduzir a velocidade em dias chuvosos, manter os pneus em bom estado e evitar poças d'água são medidas indicadas.
Já o perigo relacionado às condições da via incluem buracos, falta de acostamento, sinalização deficiente e irregularidades no pavimento. As condições de trânsito, por sua vez, envolvem congestionamentos, aglomeração de pedestres e fluxo intenso de veículos pesados.
Defeitos no veículo são outro grande risco. Pneus gastos com profundidade dos sulcos inferior a 1,6 milímetro, freios desregulados, lâmpadas queimadas e limpador de para-brisa inoperante estão entre os problemas mais graves, segundo o Detran.
Como apontado pelo compilado do departamento de trânsito, o estado do condutor é a condição de maior responsabilidade. Sono, fadiga, cansaço, preocupação, nervosismo, ansiedade e embriaguez afetam a capacidade de dirigir. A orientação é nunca conduzir sob influência de álcool ou drogas e evitar dirigir quando indisposto ou cansado.
Essa indicação vale tanto para a cidade quanto para as rodovias. Neste último caso, as federais concentram os maiores números de acidentes. A Polícia Rodoviária Federal contabilizou 73.156 ocorrências em 2024, resultando em 6.160 mortes e 84.526 feridos. Colisões traseiras lideraram os dados com 13.960 registros. Minas Gerais teve 794 mortes, Paraná registrou 607 e Santa Catarina contou 415 vítimas fatais. A BR-101 apresentou o maior número de acidentes, com 12.778 casos.
Como aplicar no dia a dia
“As práticas mais importantes são manter distância segura do veículo à frente, respeitar os limites de velocidade e sinalizar todas as manobras com antecedência”, afirma Queiroz. “Também é essencial evitar o uso do celular enquanto dirige e estar sempre atento ao comportamento dos outros motoristas. Pequenas atitudes como essas ajudam a prevenir colisões e tornam o trânsito mais seguro para todos.”
Os órgãos fiscalizadores reforçam a importância da distância de seguimento de dois segundos em relação ao veículo à frente, medida por referência de objeto fixo. Essa distância deve aumentar em condições adversas. Ao passar ou ultrapassar ciclistas, o Código de Trânsito Brasileiro determina distância lateral mínima de 1,5 metro.
Verificar as condições do veículo antes de cada viagem é responsabilidade do condutor. A manutenção preventiva evita surpresas e reduz riscos. Dirigir de forma calma diminui o consumo de combustível e o estresse diário, o que impacta diretamente na produtividade e qualidade do serviço prestado.
Os profissionais que dependem do veículo para trabalhar ganham benefícios extras. “A direção defensiva ajuda esses profissionais a trabalharem com mais segurança e menos desgaste”, observa Queiroz. “Ao antecipar riscos e evitar manobras bruscas, o motorista reduz a chance de acidentes, preserva o carro e mantém uma boa reputação nas plataformas”.
A OMS estabeleceu meta de reduzir em 50% as mortes e lesões no trânsito até 2030, como parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. O órgão reconhece que medidas comprovadamente eficazes já existem. Muitas dependem da conscientização e mudança de comportamento dos condutores.
Em meio a tantos desafios no trânsito brasileiro, o ensino superior desempenha um papel essencial na construção de soluções mais seguras e sustentáveis.
Cursos como Gestão, Logística, Direito, Psicologia, Engenharia e Segurança do Trabalho formam profissionais capazes de analisar dados, desenvolver políticas públicas, liderar programas de prevenção e aplicar boas práticas de direção defensiva dentro das organizações. Instituições como a UniFECAF contribuem diretamente para esse avanço ao preparar estudantes para compreender riscos, adotar comportamentos responsáveis e promover ações que impactam positivamente a mobilidade urbana. Assim, a educação superior torna-se peça-chave para reduzir acidentes e fortalecer uma cultura de segurança que preserve vidas.
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