A campanha Novembro Azul reforça, anualmente, a importância do diagnóstico precoce e da prevenção de uma das doenças mais preocupantes para a saúde masculina: o câncer de próstata. Segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), com base em dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a neoplasia representa 29% de todos os casos de câncer em homens no país e quase 16 mil mortes por ano.
Por outro lado, o tratamento do câncer de próstata tem passado por uma evolução nos últimos anos, com a chegada de terapias mais individualizadas que, conforme a SBOC, agem de forma direcionada às características biológicas do tumor.
Entre elas, é destacada a chamada desintensificação terapêutica, abordagem que busca reduzir a intensidade dos tratamentos em casos avançados da doença, sem que comprometa os resultados clínicos. O oncologista e diretor da SBOC, André Deeke Sasse, pontua que a sociedade está vivendo uma era de personalização do cuidado.
“A hormonioterapia intermitente, por exemplo, permite que o paciente faça pausas no tratamento, o que pode reduzir efeitos colaterais e preservar sua qualidade de vida”, ressalta.
Ele acrescenta que essa abordagem tem ganhado força no Brasil e já é respaldada por pesquisas internacionais como a publicada na revista Frontiers in Oncology, intitulada como “EORTC 2238 De-Escalate”. O estudo mostra que ciclos de terapia hormonal mantêm o controle da doença com menor impacto à saúde geral dos pacientes.
Os avanços também alcançam o campo do diagnóstico. Um exemplo é o exame PET-CT Oncológico, que combina a tomografia por emissão de pósitrons (PET) e a tomografia computadorizada (CT). O procedimento possibilita identificar mudanças metabólicas e anatômicas com elevado grau de precisão, auxiliando na detecção de metástases, na análise da resposta aos tratamentos e no planejamento das radioterapias. Entre as suas versões mais recentes está o PET-CT com PSMA, proteína presente em grande quantidade nas células do câncer de próstata.
Para o médico urologista na cidade de São Paulo, Charles Rosenblatt, esse exame é considerado um avanço no diagnóstico do câncer de próstata, uma vez que utiliza um radiotraçador que se liga ao PSMA e permite identificar até metástases microscópicas com precisão superior à dos métodos convencionais, como a tomografia ou cintilografia óssea.
“A sensibilidade do PET-CT com PSMA pode variar de acordo com os níveis de PSA. Em valores muito baixos, a chance de detectar metástases é menor, mas o exame ainda se mostra mais eficaz do que os métodos antigos”, explica o médico nas redes sociais.
Rosenblatt também ressalta a importância de os resultados serem sempre interpretados junto ao histórico clínico, ao PSA (Antígeno Prostático Específico) e a outros exames laboratoriais.
A Rede D’Or, maior operadora independente de hospitais do Brasil, destaca que, além da melhor acurácia na detecção de células prostáticas malignas, outro benefício desta técnica de exame de imagem é possibilitar a avaliação de como está sendo a resposta ao tratamento do câncer.
Radiofármacos e terapias-alvo no combate à doença
A SBOC destaca também o impacto de novas drogas e tecnologias no tratamento do câncer de próstata, especialmente nos casos metastáticos. Entre os principais avanços estão os radiofármacos, como o Lutécio-177-PSMA e Radium-223, que combinam a especificidade de um alvo molecular à ação da radiação para destruir as células tumorais.
De acordo com a entidade, estudos clínicos como o VISION Trial, publicado no New England Journal of Medicine, já mostram benefícios em qualidade vida e sobrevida com esse tipo de estratégia em pacientes resistentes a terapias hormonais
Outro avanço apontado pela instituição é o uso de terapias-alvo guiadas por biomarcadores genéticos, como mutações em genes responsáveis pelo reparo do DNA, especialmente o BRCA1 e o BRCA2.
Nesses casos, medicamentos conhecidos como inibidores de PARP têm mostrado resultados positivos no controle da doença e dos sintomas, sendo aprovados em diversos países, inclusive no Brasil, para um grupo de pacientes com câncer de próstata metastático e determinadas alterações genéticas.
“Esses tratamentos representam um novo paradigma, e entender o perfil molecular do tumor se tornou essencial para oferecer terapias mais eficazes, com menos efeitos colaterais e potencial de ganho real em expectativa de vida”, informa a SBOC.
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